Era uma vez uma garota
que tinha tudo, mas era nada. Que sonhava com o mundo, mas se isolava
em casa. Que almejava o futuro, e mesmo assim se agarrava ao passado.
Que dormia no onibus, e sofria de insonia nas noites em meio a livros
pesados. Que procurava por folhas em brancas para rabiscar algumas
ideias, mas se apegava as amareladas de uns livros, na verdade, bem
velhos. Que vivia com o olhar sempre vazio, mas a procura de páginas
sempre bem cheias. Transpirava ideias, mas roia seus sonhos.
Ela tinha um tipo de
felicidade não falada, como um manuscrito não terminado. Rejeitava
o que vinha de fora, vivia em seu mundo lacrado. Mas os olhos vazios,
sempre estavam cheios. Cheios em cada curva, uma rachadura no teto,
um olhar torto. Tinha uma chama no peito, que nunca apagava. Mesmo
depois de devaneios em diluvios por toda uma noite.
Era uma vez uma garota
que não tinha nada, mas carregava nos braços o livro preferido.
Então, pra ela tinha tudo. Era a rainha do mundo.