Valentine's Day, trabalho pra cupido


Eu sei que os dias dos namorados foi ontem. Mas ocorreram pequenos imprevistos que me impediram que postar algo do tipo, ou qualquer outro tipo de Post. Esse texto era para ser um 'Conto de fadas' para o meu curso de Inglês. Mas acabei desistindo. Por que não gostei muito, e por que a tradução ficaria complicada.

 Terminei de digitar agora á noite. E deve estar uma merda. Enfim, se eu 'não gostei muito' por que postei aqui? Pra postar mesmo. Não tinha mais outra idéia de post. Então, que seja esse. 
Quem tiver coragem de ler, comenta ai. Me diz o que achou. Critique, elogie. Diga algo. 

Então, ai vai!

Ah, e: FELIZ DIA DOS NAMORADOS.

Espero que ninguém tenha passado Forever Alone, como EU! haha.



Manhattan, em algum banco de concreto no Central Park. Uma brisa de fim de tarde brincava gentilmente com meus cabelos acobreados. O sol, antes ofuscante e intenso, agora se resumia a uma linha rósea no extremo horizonte.
 Kyle balançava os pés inquietamente ao meu lado. Soltei um suspiro quando terminei de ler mais um dos relatórios de Demetrio.
- Não sei como alguém pode ser tão perfeito... – Eu disse para mim mesma, mas Kyle se mexeu desconfortavelmente ao meu lado.
 E com uma risada amarga disparou:
- Sinceramente? Não vejo nada de demais nesse cara... Ele é um completo babaca. – Resmungou.
 Se não fosse seu comportamento tão idiota eu poderia até admitir que ele estava meio sexy daquele jeito largado sobre o banco, aborrecido. Mas quem eu realmente amava era Demetrio Matteis, mesmo nunca tendo o conhecido pessoalmente, eu sabia que tínhamos que ficar juntos. Era o destino. Não havia nada mais que aquecesse meu coração que seus olhos azuis cristalizados. Eram profundos e estonteantes.
- Idiota? – Minha voz saiu esganiçada. Se existia alguém menos idiota naquele mundo com certeza era Demetrio. – Você sabe de quem estamos falando? Sabe quantos casais ele foi capaz de juntar durante todas essas primaveras? Incontáveis! E de maneira tão romântica... – Eu sacudi os relatórios sob seu nariz.
- Isso é o que ele faz. Ele é um cupido. E não faz sentido você ficar se derretendo de maneira tão tola. – Eu o encarei estupefata e então ele completou: - Nós podemos ser tão bons quanto eles. Só precisamos da oportunidade certa... – Sua voz quase sumiu nas últimas frases.
- Dentre as últimas primaveras, quantos casais conseguimos juntar? – Eu tentava manter a voz amena, e não gritar para ele que estava sendo totalmente ignorante e implicante. E invejoso!
- Bem Anne... – Kyle começou humildemente.
- Dois! – Eu praticamente gritei. – Dois casais. Sendo que um deles só se falam via internet e o outro está em pé de guerra na justiça... Admita, somos os piores cupidos sob a face da terra. Nem asas ainda temos...
- Annelise, pense bem. É apenas nesse época do ano que somos autorizados a fazer intervenções diretas. Você sabe como é o processo. Quando duas pessoas se amam mas não sabem que o sentimento é mutuo entre os dois; Ou são tímidos, orgulhosos. Quando há qualquer empecilho entre sua união. Hoje é dia dos namorados e você conseguiu ver algum sentimento verdadeiro reprimido sob faces tímidas? Tudo agora não passa de puro divertimento e comércio. – Ele fez uma pausa. – O amor que independe de ligação de sangue está acabando.
- Kyle... – Eu sentia as lágrimas brotando nos meus olhos, pisquei para afasta-las. Eu não sabia que ele fosse tão sensível, tão... Amável. Eu o havia realmente subestimado.
- Você mesma é a prova disso. – Ele me encarou solenemente. – Sua paixonite platônica por Demetrio, um cara que é pura imagem de comércio e símbolo sexual entre nós, quando tantos garotos a sua volta realmente se interessam por você.
- Ah, é? Quem? – Eu soltei uma risada divertida, aquilo era tudo muito hilário. Quando um garoto havia olhado para mim? Eu com meus 1.55 de altura, pele quase translucida e cachos ruivos que iam até meus cotovelos. Poderia ser uma combinação perfeita, mas não era. De maneira alguma.
 Kyle desviou o olhar quando me virei para tentar arrancar alguma informação dele, e de alguma maneira aquela situação deixou o clima entre nós tenso. Senti uma palpitação no peito. Um rubor partindo do meu coração e se disseminando por cada terminação nervosa do meu corpo. Meu rosto se ruborizou e eu tinha a sensação de a cor estar se fundindo ao meu cabelo. Eu arfei e me endireitei no banco.
 Eu não havia percebido, mas a noite já havia vencido o crepúsculo e Nova Iorque estava viva em pontinhos brilhantes de luz. O Central Park estava deserto, a não ser por mim e Kyle. E agora a iluminação se limitava a postes de luz espalhados estrategicamente.
- Anne... – Kyle balbuciou para a noite, rompendo meus pensamentos... – Está sentindo?
 Agora eu me virei, para entender o que ele queria dizer. E logo reconheci aquele estado. Como um transe. Seus olhos acinzentados encaravam adiante, sem foco. Seus músculos se retesavam e uma luz muito fraca tremeluzia, o delineando. Um sorriso malicioso se formou em seus lábios, e eu finalmente entendi o que aqueles sinais queriam dizer. Algo inflava dentro de mim, eu estava eufórica. Nossos poderes de cupido ficaram muito tempo sem uso, quase atrofiados, precisavam se livrar, correr livres e unir corações apaixonados.
  Kyle se levantou, suas sobrancelhas se arquearam como se finalmente compreendesse um problema de matemática. Eu o encarei ansiosa, esperando. Como ele não deu indícios de que tomaria alguma inciativa me agarrei a sua mão o puxando em direção a trilha em que eu sentia o casal. Kyle ficou sobressaltado com meus dedos entrelaçados os seus, mas preferi ignorar.
 A trilha era um atalho, eu e Kyle adentramos. Sombras estranhas se projetavam fracamente. Aquele não seria um atalho muito usado á noite. Onde nem a luz dos postes conseguiam alcançar direito. Eu a cada vez mais sentia a presença do meu arco e das minhas flechas. Apalpei o vazio ao meu lado, como se minhas bolsa de flechas tivesse se materializado sozinha sem uma ordem direta.
- Acca Pucho! – Sibilei. Minha mente relembrando os momentos em que mirei um coração desprevenido com minhas flechas. Eram boas lembranças.
 O peso das flechas sob meu ombro direito trazia uma sensação boa, apalpei a bolsa como se para ter certeza que realmente estava ali. Era um alivio, sentir as extremidades pulsantes como se tivessem vida. As pontas eram volumosas, a ponta era afiadíssima, mas as duas outras eram arredondadas para não machucar o coração que fosse atingido. Delas emanavam uma energia que parecia quase física, por uma fraca e quase imperceptível áurea que elas irradiavam. Não bastasse isso, hora ou outra uma delas estremecia agitadamente, como se todo conteúdo contido ali fosse demais e a qualquer hora seria capaz de romper o frasco.
 Meu arco. Ah, ele ia se materializando lentamente. Como por camadas. Ia escorrendo pelo meu braço, um liquido rastejante que tinha cor de névoa, vários ramos entrelaçados no meu braço que iam se fundindo em um só quando se encontravam na minha mão, se tornando sólido. Ia cada vez mais se projetando para além da minha mãe, formando a base curvada. E quando a base estava pronta, veio os detalhes, que pareciam talhados. Eram inimagináveis, e só vendo. Imagens indescritíveis. Finos traços que pareciam de trepadeiras, detalhes que pareciam abstratos e olhando melhor se formavam flores... Uma verdadeira obra de arte.
 Finalmente arco e flecha sólidos, e reais. Olhei para Kyle, ele também estava pronto.
- Está cada vez mais forte. – Era perceptível a ansiedade em sua voz.
- Mas o que eles fazem aqui? Assim, numa trilha escura á noite? Meio estranho...
- Humanos são estranhos Anne. – Ele apertou minha mão, fazendo uma leve pressão.
- Que seja. – Resmunguei. Continuamos pela trilha. Que ia cada vez mais se abrindo, se tornando rala. Eu via pontinhos brilhantes, através das brechas das árvores. Então eles não estavam bem no meio do ‘nada’. Nossos sentidos só nos guiou pelo caminho direito. Precisávamos aperfeiçoar isso. Kyle parecia também ter percebido, ele parecia chateado.
 Ele se apressou, me puxando. Agora havia vozes, barulho de pessoas gritando, música tocando, luzes brilhantes de neon. Aquilo estava um caos. Um completo caos. Senti algo se apertar na boca no meu estomago, agora tudo se tornava um pouco mais difícil. Havia pessoas, movimento... E eu e Kyle com bestas apontando para corações de pessoas inocentes? Não parecia algo muito certo aos olhos daquelas pessoas.
- E agora? – Sussurrei. Não que alguém pudesse nos ouvir, mas só pelo costume de estar fazendo aquilo em meio a tantas pessoas.
- Não sei. Vamos dar um jeito.
 Joguei o arco sobre meu braço, e Kyle fez o mesmo. Ninguém repararia em nós, estávamos bem na beirada, quase imersos na escuridão. Nossos olhos caçavam furtivamente o casal, a procura da qualquer sinal. Havia muita gente. Era impossível focar em um casal só, ou em uma só pessoa. Havia carrinhos de algodão-doce, cachorro-quente, de jogos, lanchonete. Uma banda se apresentava. Estava tudo uma bagunça. E então, eu reparei. Duas pessoas de costas, uma garota e um garoto que tentava agarrar com a mão mecânica um urso de pelúcia dentro da caixa de vidro. Eu via uma luz rala, que tremeluzia bem fracamente em volta dos dois. Mas não havia só eles. Tinha uma grande orla de garotos e garotos que interagiam com os dois. Eles riam, brincavam. Não estavam sós. O que tornava tudo pior, por que já havia corpos demais se movimentando em frente a eles. E ainda havia os amigos, que sempre estavam fazendo contato direito, na frente, abraçando...
- Lembre-se. Ao mesmo tempo. Mirar, e atirar. Temos que fazer isso rápido, antes que alguém nos veja.
- Tudo bem. – Assenti. Nós nos encolhemos atrás de um banco e miramos, esperando a hora certa.  Eu estava totalmente focada no garoto, esperando o momento certo para que ele se virasse e seu coração ficasse exposto, ao mesmo tempo que a garota. E então eu vi uma luz avermelhada, muito fraca, reluzindo do outro lado da praça. Enfurnada também na escuridão, havia a ponta de uma flecha se materializando do escuro. E outra também, obviamente.
- Kyle! – Eu o acotovelei, e acenei com a cabeça. O sangue fugiu de seu rosto.
- Merda. Temos que ser rápidos.- Ele parecia mais nervoso. Secou as mãos na calça. Eu respirei profundamente.
E assenti.
- Preparada? Temos que aproveitar cada segundo. Cada segundo.
-Aham. – Eu esqueci que havia outra dupla de cupidos tentando acertar o mesmo alvo que nós, e me fixei no meu objetivo. O garoto havia conseguido pegar o urso, na comemoração o urso foi arremessado para trás. Os dois alvos saíram do alvoroço da barraca para pegar o urso. Se abaixaram na mesma hora, era perceptível o amor entre os dois. Quase sorri, e o teria se não estivesse tão tensa.
-Agora. – Praticamente ordenei. Eu e Kyle, numa sintonia perfeita puxamos e soltamos o arco no mesmo momento. O barulho do arco se distorcendo, tudo a volta parecia lento, como um efeito de cinema, tudo turvo e lento e apenas os dois centralizados na minha visão sendo atingidos no peito. As flechas zuniram pelos centésimos de segundo no ar, e atingiram e cheio os alvos. Uma pequena explosão de vermelho e azul aconteceu, como tinta se dissolvendo em água. Tudo muito lento, e então no mesmo momento um grito agudo soou abafado pelo som da banda, tudo voltou ao normal. As essências das flechas sendo sugadas por nariz, ouvido e boca dos dois. Não deu tempo de ver as consequências Kyle agarrou meu braço.
- Anne! – Kyle gritou me puxando para trás. – Alguém viu.
 Começara uma gritaria pela praça, alguém nos vira com o arco e a flecha mirando em corações. Policiais corriam em nossa direção, assoprando apitos. Kyle saiu me arrastando novamente para a penumbra, que logo se tornou breu. Eu não sei quando eu havia dado a ordem, mas assim que rompemos novamente pelo Park meu arco e flechas já haviam se desmaterializado. Agora era apenas eu e Kyle atravessando o parque. Nós corremos, muito. Eu já estava sem folego.
 Eu o puxei, ponto as mãos no joelho.
- Não aguento mais. – Admiti. Ele me puxou para trás de uma fonte, lá estava pouco claro. O suficiente para ver sua expressão. Os cabelos colados ao rosto suado. Ele me encarava de um jeito engraçado, os olhos meio arregalados.
- Conseguimos! – Ele sorriu.
- Conseguimos... – me joguei de uma vez no chão. Tomando folego.

 Já havia se passado uns dez minutos. O silencio havia baixado sobre nós dois. Cansaço, adrenalina, felicidade, momento constrangedor... Não sei. Estávamos em silencio.
- Kyle... – Eu me virei para ele. Queria dizer algo, não sabia o que. Mas queria... Sei lá. Algo que afundava meu coração num poço de sentimentos reprimidos. Mas eu não conseguia visualizar o que queria dizer, nem as palavras. Eu não sei se foi um blefe, por ter passado o dia inteiro vendo carrinhos coloridos, agora á noite luzes neon. Mas eu vi luzes bem fracas, azuis e vermelhas brilhando a alguns metros de nós. Depois disso, eu senti algo iluminando o meu coração. Como se algo afiado tivesse aberto o caminho. Eu conseguia enxergar o que antes não entendia, não visualizava...
- Kyle...- Eu me virei. Dessa vez certa das palavras.
-Anee... – Ele havia se virado no mesmo momento que eu. Havia algo em seus olhos, que brilhava. – Eu...
 Não sei o que havia nos dado, mas nesse momento, percebendo, não sei como, as intensões um do outro deixamos as palavras de lado. Eu pelo menos, não sei se eu havia feito aquilo. Ou os dois. Ou ele. Mas num surto de euforia, eu estava agarrada aos seus cabelos, com os lábios colados aos seus, da maneira mais entusiasmada que eu já estivera. E era estranho por que eu sentia minha boca meio dormente, eu meu coração formigando.
 Depois, quando nos separamos mal conseguíamos respirar. Mas eu encontrei folego, e ele também, de algum lugar para dizer, algo, algo extremamente importante. E num uníssono, dissemos:
- Te amo. – E ficamos ali, mais um tempo. Fogos de artificio choviam pelo céu, em várias cores, explodindo. Iluminando. E era assim que eu meio que estava. Explodindo em cores. 


1 Não calaram a boca:

Marcela! • disse...

Admito que não consegui ler o texto inteiro (estou no trabalho), mas quero ler com calma depois. Parece estar bacana!
Beijocas!
:*

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