Coffee & Cia


 Esse texto não foi revisado. CUIDADO!


Está tudo girando fora da órbita, no sistema errado. Falta gravidade para me manter no chão, falta céu para eu me manter nas nuvens. A lógica perdeu o sentido, anda a vagar por becos não iluminados pela mente murmurando versos de amor. Versos de amor enlouquecidos, cheios de dor e desesperança. Não tem lógica. Está em falta.
O tempo tem preço do lado de fora, e está com pressa. Não consigo me agarrar a uma causa que me desabasteça de tanto tédio. Vultos é o que restou de mentes desgastadas, não consigo acompanhar. Vem e vão tão apressadamente, qual o relógio que move suas vidas?
 Está tudo ficando tão pálido. Meu coração pesa como chumbo dentro de mim, rancor acumulado? Mas eu me livrei há tanto tempo. Talvez tenha sido um pingo de gravidade, estou voltando ao chão. Me desagarrando do nada, soprando tão lentamente o que já é, eu vou caindo por mim.
 Onde está o cinto de segurança? A vida passa por uma turbulência, e talvez tenhamos caído numa ilha. Eu não consigo sentir, é ofuscante, quente e úmido. Mas não sinto grãos de areia finos por baixo dos pés. Na verdade, algo os apeta. Meus dedos reprimidos numa forma pequena de sapato. Onde bolhas já antigas estão por contar histórias.
 Percebo tudo embaçado como um dia de chuva, riscos vermelhos num fundo branco. Luzes incandescentes piscando por todo lado, borrando e ofuscando minha visão. Entrando em foco, aos poucos, bem lentamente, como os pensamentos densos que embaralharam meu cérebro. Letras ainda difusas, mas começam por fim a fazer algum sentido. Coffee & CIA?
 Como uma seringa perfurando a veia do braço, foram os sons entrando confusamente numa cabeça desorientada. Onde a loucura parece tão correta, e a lógica é uma fugitiva. Onde coisas que pulsam e se auto mutilam são reis de uma hierarquia de idiotices erradas.
- Mais alguma coisa senhorita? – Um vapor quente me desperta de um mar enervado de sentimentos.
 Ergo os olhos de dentro da minha mente, para o bule com a substancia quente que vinha me mantendo acordada desde manhã. Cafeína tinha sido a droga dos meus problemas. Ergui a mão tomando o bule do garçom.
- Vou ficar com isso. – Acolhi o bule nos braços como uma criança. Talvez minha lógica estivesse mesmo em falta. Ou talvez eu nunca tenha tomado uma dose dela.
- Mais alguma coisa? – O cara que tinha voz rouca perguntou pausadamente.
- Não... – Ia ficar tudo bem, tudo tranquilo. Eu ia terminar de tomar meu café, ou talvez mais alguns bules. Iria para casa, tudo ficaria bem. Dentro da minha realidade. Mas eu tinha necessidade de enlouquecer a mente alheia, de compartilhar aquelas ideias sem fundamento, e sem fonte alguma de raciocínio. – Talvez, talvez se você pudesse me oferecer um punhado de sentido. Um cobertor de conforto, algumas gotas de raciocínio. Se pudesse inundar minha mente de lógica. Entorpecer meu corpo, que há meses está dolorido. E arrancar fora... – Espalmei a mãe sobre meu peito, sentindo meu coração pulsar no seu melhor ritmo estando dilacerado. – Isso...
Completei. Deixei meu olhar se perder além da vidraça que vinha sendo chicoteada pela chuva de verão desde o meio dia. Talvez eu devesse arrumar também uma solução para calar minha boca. Eu ainda matinha a jarra quente perto do peito, era um calor superficial. Mas aconchegante.
 Eu ouvi a cadeira a minha frente ser arrastada pelo chão de madeira.
- Nós não temos nenhuma dessas opções no cardápio. – Sua voz soava tão suave. A rouquidão era tão aconchegante para os ouvidos.
-Talvez eu devesse procurar um lugar mais adequado... – Continuava a encarar lá fora, aqueles letreiros de neon colorido me davam certo êxtase.  
- Também acho. Mas eu só conheço um lugar. – Aquelas palavras me pegaram de sobressalto. Já há muito as pessoas não tinham mais paciência para ouvir e compartilhar comigo essas tolices sem fim. Quanto mais entrar no jogo.
 Escorreguei a jarra pela mesa, e parei para encarar seus olhos. Procurar algum vestígio de graça ou zomba. Mas me afoguei. Eu um mar tão agitado e cinzento. Acho que estava passando por momentos frios e agitados. Estava em meio uma tempestade. Ele pestanejou para mim.
- E qual lugar seria esse?
- Alguém cuja da boca saem palavras tão expressivas deveria conhecer muito bem o que procura.
-Prefiro me manter ignorante quanto a isso. Talvez seja melhor deixar tudo como está, as coisas devem se arrumar sozinhas.
- Uma garota tão bonita quanto você não deveria cultivar uma personalidade leiga nos cantos da alma. Pega mal.
 Não pude deixar se sorrir, que tipo de flerte é aquele?
- Gosta de ser forçada a fazer alguma coisa? – Não era o tipo de pergunta que costumavam me fazer.
- Obviamente que não. Você gosta? – Refleti a ele sua pergunta.
- Obviamente que não. Por isso que me forcei a tomar uma decisão antes que o que eu cultivava dentro de mim atingisse pessoas importantes. É como uma bomba biológica, só eu sabia qual o fio certo a cortar.
“Ficar remoendo aquilo, me lamentando só acelerava meu tempo. E no final não adiantou de nada, todo aquele sofrimento. Procurei todas as minhas necessidades dentro de mim. Consegui suprir minhas próprias necessidades. Eu tinha o que precisava o tempo todo e não sabia. Descobri sozinho, e agora tem alguém de dando a direção para saída. Devo presumir que deva ser uma garota masoquista se não aceitar isso como uma ajuda. É melhor, conselho.”
 Ele se levantou, empurrando a cadeira. Nicholas era o que estava escrito no seu broche de identificação. Me joguei para fora da cadeira. Como se tivesse acordado de um longo sono.
- Nicholas! – Chamei com certa urgência na voz. Dei alguns passos cambaleantes em sua direção e entrelacei meus braços em sua cintura.
- Obrigada. – Sussurrei contra seu uniforme. Por um momento pensei se aquele havia sido um ato de extrema intimidade. Mas ele me abraçou de volta.
 De repente eu sentia de novo, conseguia perceber e enxergar. Havia uma certa claridade na minha mente. E uma urgência de ser feliz.
 Só cheguei em casa depois das duas. Estava ajudando Nicholas, - que na verdade era Luke e estava usando o uniforme do colega por que um cliente havia derramado chocolate quente em sua camisa mais deco. – a limpar a loja.
 Foi a primeira vez em anos que deitei a cabeça no travesseiro sem pensar em mais nada. Só dormi aquela noite. 

Raphaele Caixeta anda tentando fazer sentido com coisas sem lógica, e confusas. 

2 Não calaram a boca:

Jaqueline Guerreiro disse...

Gostei do texto, eu escrevo coisas assim também as vezes sabe?! coisas que pra quem lê é "sem sentido", e só faz sentido na minha cabeça mesmo.. Gostei mesmo, me lembrou um conto que escrevi uma vez parecido :D

Obrigada pelos elogios <3
E o cara da foto é um amigo meu :D
http://somecontroversy.blogspot.com/

Raphaele C. disse...

Obrigada. :)

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